À uma linda mulher, deram-lhe um dia.
O dia em que mais de cem delas
Foram queimadas vivas
Quais bruxas de Salém.
Sem filhos, sem machos,
Sem ninguém.
Temos um dia, linda mulher!
Talvez para lembrarmos
Como somos necessárias
Nas vidas dos nossos homens
De serviçal a secretária,
Somos de tudo
Mães, esposas, amantes.
Temos um dia, mulher!
Vamos passar batom
Subir em nossos saltos
Preparar o café da manhã
Sair em defesa do pão
Que o diabo amassou
De cada dia
E todos os dias
Agradecer ao Senhor
E à noite, sempre estaremos
Leves e perfumadas
Nossas olheiras disfarçadas
A decepção mascarada
Num sorriso de carmim
Temos um dia, mulher!
Para nos acharmos importantes
Enxugar as lágrimas dos filhos
Limpar as marcas das amantes
Agradecer a Deus nossos homens.
Temos um dia, mulher!
O ano inteiro nos queimam
Dignidades, anseios e metas.
Jovens, velhas, feias e bonitas,
Colocadas em vitrines
Para serem as escolhidas
E terem como prêmio
Um banho de esperma.
Temos um dia, mulheres!
Porque somos minoria
E enquanto tivermos esse dia
Sentiremo-nos justiçadas
Calaremos as nossas falas
Daremos por término
As conquistas
Temos um dia. Nós mulheres!
A MAIOR DAS SAUDADES
É a saudade de mãe
Saudade do bebezinho chorão
Saudade dos primeiros passos
Do abraço na porta da escola
Que apertava meu coração
É saudade danada do que já cresceu
Que não vê mais a segurança do colo
Não carece, não quer proteção
Do ninho de onde nasceu
É saudade de mãe
Que erra querendo acertar
Bajula na hora da bronca
Bronqueia quando tem que afagar
A maior das saudades
E quando se constrói a ausência
Sem ponte, sem parapeito.
Se juntos, parecem distantes.
Distantes, um abismo de medos
A maior das saudades
É a saudade de cada um
Uns, a dor da perda maior.
Outro, do que não conheceu.
Pra mãe, do filho esperado,
O amor que não recebeu
A maior das saudades?
É a minha saudade de mãe.
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