quinta-feira, 21 de janeiro de 2010
MILAGRE
Corra e atravesse o tempo, a vida.
Quem sabe o mundo seja generoso
Não adianta lamentar
O tempo não volta
O passado é apenas uma lembrança
Num guardanapo de papel amarrotado
Ouça essa canção no silêncio da noite
E pense, você sobreviveu.
Só isso importa. Só isso importa.
O seu anjo era apenas um sonho
Anjos não voam mais
Cuidam dos valores reais
Fazem relatórios
Digitam estatísticas
Corra, atravesse o tempo,
Quem sabe aquele Gabriel
Que outrora, num balanço,
Na praça, na concha,
Cantou-lhe “o som do silêncio”
Volte para lhe dizer: Não desista
Vale a pena sonhar
O sonho não acabou
Todos mentem
Acredite, é só esperar.
Sonhe, sonhe, sonhe,
Sonhe toda a esperança do mundo
Acredite: a terra gira
É mais um milagre.
AS RESPOSTAS NÃO ESTÃO NO VENTO
AS RESPOSTAS NÃO ESTÃO NO VENTO
Qual o som do silêncio?
Qual a cor da morte?
Qual o cheiro da dor?
E “as respostas estão no vento”
Na negra noite sem lua
Em choros e perdas
O som absurdo da solidão
Digere o ácido da ausência
Tinge de vermelho os olhos
Degola soluços aprisionados
E a orfandade batendo à porta
Enquanto o mundo perde a forma
E os loucos dançam sem chuva
Baudelaire deposita suas flores
No caixão vazio da louca.
Que grita se esperneia e sofre.
Qual o som do silêncio?
Qual a cor da morte?
Qual o cheiro da dor?
Não há ventos
Só um protótipo feminino
De Gregor Samsa.
PRESSÁGIO DE POE
PRESSÁGIO DE POE
Já é verão na janela
Em meu quarto,
Um eterno cinza
Habita em mim
Um dia atrás do outro
Um dia de cada vez
Só por hoje, só por hoje,
O relógio bate
Só por hoje, só por hoje,
Continuarei respirando
Só por hoje, só por hoje.
Esperarei Godot
Suportarei o vazio
Irei a lugar nenhum
Aguardarei o nada
Abafarei o soluço
Assustando o travesseiro
Na parede descarnada
Só por hoje, só por hoje,
O relógio bate
Só por hoje, só por hoje,
Bate meu coração
Um dia de cada vez
Um dia de cada vez
O presságio de Poe
Um dia de cada vez
Preenche o vazio do quarto
No aço gasto do espelho
Só por hoje, só por hoje,
Olharei meu rosto
Pela última vez